As águas e o Espírito de Deus – O vento (forte): reação dos nomarcas contra os trabalhadores, e depois contra os hicsos – A arca e o “pessoal” a bordo

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Livro: O DILÚVIO (Art. 17, Cap. III, 8.3.;9.;10., p. 69-73) www.tribodossantos.com.br

  1. 3. As águas e o Espírito do Deus Pai Criador. Voltemos nossa atenção ao fenômeno social que pensadores antigos chamaram, simbolicamente, de dilúvio, ou seja, inundação universal. O significado do signo “águas” consiste numa importante chave para o entendimento da Teoria da História. O Mestre revelou, através do discípulo que ele amava, o significado do signo águas: (Ap 17, 15) “As águas que viste, onde se assenta a prostituta, são povos, e multidões, e nações, e línguas”. Em outros termos, o signo águas representa, “exclusivamente, as interações entre múltiplos e multiformes grupos sociais e respectivas trocas simbólicas ou interações significativas ou simplesmente línguas”.

          No contexto da Estrutura do Sujeito Social, a noção representada no signo “águas” se distingue da noção de “abismo” (relações sociais de produção).[1] Pois, águas e abismo são duas formas distintas de observarmos as mesmas relações sociais: no abismo, observamos as relações sociais – de produção – face à natureza exterior; nas águas, observamos as relações sociais de modo exclusivo (traças simbólica, materiais, sexuais, rituais, etc.), isto é, fazendo abstração de suas relações de produção com a natureza exterior.

          Sobre o “abismo” (relações sociais de produção) se desenvolve a consciência coletiva de ordem “feminina” ou “mãe trevas”, como forma de expressão da tendência para a inércia dos corpos materiais. Essa forma de consciência coletiva ou espírito motiva a conduta das “Trevas”. Isto é, dos “quatro querubins” (quatro principais atividades intelecto-sociais de direção): da atividade ideológica (face humana), da atividade política (face de leão), da produção (face de touro), e da circulação comercial (face de águia), e respectivas “rodas” (os grupos sociais que exercem essa quatro atividades intelecto-sociais de direção).[2] Assim, eles atuam no sentido de interditar a possibilidade da união “hipostática” entre, de um lado, as “águas”, e do outro, o “Espírito Santo do Deus Criador”, a Consciência Coletiva de ordem Masculina ou Deus Pai, forma de expressão do Trabalho Natura-Social.

          O agravamento da crise depressiva Noé do Grande Mercado Global pré-diluviano ocorrido cerca de 1788 a.C. (Início do II Período Intermediário egípcio, ou fim do Bronze Média) se deu, também, em decorrência da “abertura das barreiras dos céus” (cf. Gn 7, 11). Ou seja, Emanuel o Escolhido (Melquisedec) desencadeara a revolta cultural e respectivas práticas (libertação individual; incremento de relações sociais igualitárias, fraternais e pacifistas). Esta revolução fora prosseguida por seus discípulos, e se propagara com força por toda a rede global de mercados macro-regionais e pelas respectivas trocas culturais. O combate empreendido pelo Escolhido e por seus se dava em termos de embate de ideias, as quais eram acompanhadas de exemplos práticos coerentes.

         O rompimento ou abertura das “barreiras dos céus” significa o rompimento de cadeias ideológicas, isto é, rompimento dos meios de moldagem da conduta individual e coletiva, e o rompimento dos meios de controle e de mobilização social.[3] Esses rompimentos propiciaram a libertação dos indivíduos, notadamente com relação aos grupos ou instituições coletivas (religião, estado, nação, língua, profissão, etc.), no interior das quais cada indivíduo se encontrava como que aprisionado ou “crucificado”.

          O rompimento dessas “cadeias” ou “barreiras” (dos céus) ocorrera juntamente com o “rompimento das fontes do grande abismo” (queda vertiginosa da produção e da circulação. Resultado: fome no interior e nos arredores das cidades, grande mobilização social abrupta e desordenada, etc.). Ou seja, enquanto os indivíduos libertos pelo Escolhido e fiéis à doutrina deste atuavam no sentido do estabelecimento do modelo de formação social baseada em relações sociais igualitárias, fraternas e pacifistas, outros indivíduos procuravam restabelecer o modelo injusto de ordem social, e outros tantos se davam ao desespero e/ou ao vandalismo. Esse quadro social caótico era caracterizado por intensas mobilizações sociais abruptas e desordenadas. Ele fora representado na inundação universal ou dilúvio.

          Os meios de interdição, “aprisionamento” ou simplesmente as ‘barreiras” ditas dos “céus” consistem em estratégias ideológicas (de ordem religiosas, econômica e políticas). As quais eram operadas pelas “trevas” (ideólogos, políticos, etc.), a partir do campo “céus” (superestrutura) da Estrutura do Sujeito Social, mais especificamente do subcampo “trevas” dos céus. As trevas consistem nos querubins , isto é, o conjunto dos estratos sociais que exercem trabalhos intelectuais, no contexto da divisão do trabalho material (campo terra) e intelectual (campo céus). O rompimento e a abertura dos meios de controle a serem exercidos sobre os indivíduos e os respectivos grupos sociais foram empreendidos por Emanuel o Escolhido (Melquisedec), através da insurreição cultural e coerentes práticas (igualitárias, fraternas e radicalmente pacifistas) por ele desencadeadas. Insurreição esta prosseguida por seus discípulos. Pois, Melquisedec cumpriu, certamente, o “sacrifício eterno”. Essa insurreição se propagara por toda rede global de mercados macro-regionais e de respectivas trocas culturais.

  1. O “vento” (forte): a reação dos nomarcas do Alto Egito contra os trabalhadores, e depois contra os hicsos. O “vento” (forte) representa a repressão e o domínio físico e ideológico empregados como meios de moldagem de conduta, controle e exploração econômica exercidos pelas elites (novas e/ou antigas) do Alto Egito, sobre a massa social trabalhadora. O “vento forte” corresponde, certamente, aos três últimos soberanos da 17ª Dinastia, que a partir de Tebas iniciaram a libertação do Egito e a expulsão dos hicsos. A qual fora concluída por Amósis, que fundou a XVIII Dinastia, dando início ao período que chamamos de Novo Império, e era pós-diluviana.[4] Desse modo, tais elites fizeram com que as “águas” (povos, nações, multidões, etc.) “baixassem” (exterminação e submissão das massas superpopulosas e revoltas). Assim, as “fontes” (produção, circulação e diferenciação social) do “abismo” (relações sociais de produção) foram restabelecidas. Nesse sentido, vejamos:

         “(Deus) Fez soprar um vento sobre a terra, e as águas baixaram. As fontes do abismo fecharam-se assim como as barreiras dos céus e foram retidas as chuvas. As águas foram-se retirando progressivamente da terra; e começaram a baixar depois de cento e cinquenta dias” (Gn 8, 1-b-3).

  1. A arca e o “pessoal” a bordo. A “arca” representa a preservação de determinados fatores estruturais (permanências estruturais) de ordem social. Fatores estes que o autor quis enfocar com destaque, em detrimento de outros. Fatores que foram preservados, apesar de toda a destruição causada pelo “dilúvio” (caos e convulsão social grave, prolongada e generalizada). Mas, preservados de modo elementar, Por exemplo, “Lamec” o Grande Mercado Global não foi preservado, e sequer entrou na arca. O autor mostra que foram preservados, na sócio-história em tempo longuíssimo, os fatores estruturais “eventuais” Noé e seus filhos. Foram preservadas, também, as seguintes permanências estruturais: “mulheres” (forças de trabalho); “animais” (instituições coletivas). O simbolismo dos “casais de animais (instituições coletivas) de cada espécie” representa o modo elementar, porém o suficiente para tais instituições se reproduzirem. Com o fato dos animais adentrarem na “arca” (preservação ou salvação), o autor pretendeu indicar que tais instituições coletivas seriam preservadas, apesar do “dilúvio”, embora de modo elementar.

[1] A respeito da noção de Estrutura do Sujeito Social, cf. ART. 41: A segunda fase da formação da Estrutura do Sujeito Social, e sua representação topográfica (Art. 41, 3.7.2., p. 266-271):

http://tribodossantos.blogspot.com.br/2013/04/a-segunda-fase-da-formacao-da-estrutura.html

Cf. ART. 42: O segundo dia da criação: o nascimento da linguagem (Art. 42, 3.8.,p.271-276):

http://tribodossantos.blogspot.com.br/2013/04/o-segundo-dia-da-criacao-o-nascimento.html

[2] A noção de Querubins e respectivas rodas: Cf. Art. 16. O abismo e as águas na Estrutura do Sujeito Social – O abismo e as trevas – As trevas e os querubins (Art. 16, Cap. III, 8.;8.1.;8.2., p. 64-69)

[3] Cf. ART. 44: As águas inchadas do dilúvio rompendo barreiras (Art. 44, 3.10., p.285-287):

http://tribodossantos.blogspot.com.br/2013/04/as-aguas-inchadas-do-diluvio-rompendo.html

[4] .Cf. Lévêque, Pierre. As Primeiras Civilizações – Volume 1 – Os Impérios do Bronze, Edições 70, 1987, Lisboa / Portugal, p. 186.